Tem havido muita especulação aqui em casa sobre o que exatamente o “f” em SILENT HILL f significa. Seria “fear”? “fatal”? Ou talvez algo mais… intraduzivelmente assustador?
Bem, depois de terminar o jogo, confesso: ainda não cheguei a uma resposta definitiva — mas qualquer uma dessas opções chega perigosamente perto da verdade.
Produzido pela Konami em parceria com a NeoBards Entertainment, este é o mais novo capítulo de uma longa e enigmática franquia. E preciso dizer: as coisas mudaram — e muito — desde a primeira vez que caminhei pelas ruas enevoadas do Silent Hill original.
Esta nova encarnação parece mirar alto, com ambições imensas e uma abordagem diferente para o terror psicológico que marcou a série.
A grande questão é: será que SILENT HILL f consegue sustentar esse peso e honrar o legado, ou acabará lembrando os tropeços de Silent Hill 4: The Room?
Bom… só há uma maneira de descobrir. Melhor entrar na neblina — e ver o que ela esconde.
Em SILENT HILL f, assumimos o papel de Hinako, uma jovem adulta vivendo no Japão dos anos 1960. Ela enfrenta um cotidiano sufocante: um pai alcoólatra e abusivo, uma mãe emocionalmente ausente e um círculo de amigos outrora inseparável, agora fragmentado à medida que emoções e desejos juvenis começam a transbordar.
Os temas que o jogo aborda são densos e, por vezes, dolorosos. Questões como gênero, puberdade, casamento, maternidade, família, amizade e amadurecimento permeiam toda a narrativa — exploradas com a ousadia e a sensibilidade característica do roteirista cult Ryukishi07.
É difícil não admirar a coragem com que o jogo encara essas ideias — sem suavizá-las, sem concessões, e com uma sinceridade rara no gênero.
Ajuda o fato de que as atuações excepcionais, a apresentação cinematográfica estelar e a música melancólica elevam muitos dos principais pontos da história do jogo e lhes dão o peso que merecem. Silent Hill pode às vezes parecer um pouco simples, mas certamente sabe como enquadrar algumas imagens grotescas e deslumbrantes ou dar à performance o tempo e a atenção necessários para brilhar, especialmente na dublagem japonesa original do jogo.
É uma pena que o mesmo não possa ser dito de todos os cenários do jogo. Eles oscilam entre os becos enevoados e corredores repulsivos — cobertos por aquela carne pulsante e fétida tão característica da série — e ambientes excessivamente claros, comuns e assépticos, que diluem parte da tensão.
Há momentos em que a atmosfera realmente acerta o alvo (aqueles espantalhos são puro combustível para pesadelos), mas, no geral, a sensação é de estar passeando como um turista por locais vazios e pitorescos, sob um clima apenas desconfortável, não aterrorizante. Uma pena para uma franquia que, em seu auge, dominava a arte de transformar cada passo em um ato de puro pavor.
Como de costume, Silent Hill f intercala a exploração com uma série de quebra-cabeças, indo desde desafios simples até enigmas deliberadamente enigmáticos — e, às vezes, tão ilógicos que desafiam até o sentido de progressão.
O ritmo também sofre com as idas e vindas entre o mundo real e um domínio místico paralelo. Embora a conexão entre ambos seja fundamental à narrativa, as transições são frequentemente forçadas ou mal explicadas, resultando em uma estrutura narrativa irregular e fragmentada, que quebra a imersão em vez de intensificá-la.
Uma das maiores surpresas desta nova versão de SILENT HILL é, sem dúvida, o sistema de combate. Nos títulos clássicos, lutar era algo a ser evitado sempre que possível — o terror vinha justamente da vulnerabilidade. Desta vez, porém, o jogo assume uma postura completamente diferente.
Sim, é como Dark Souls — e não, essa não é uma comparação preguiçosa. O combate gira em torno de esquivas, contra-ataques, uso preciso de armas e gerenciamento de stamina, o que lhe confere um ritmo tenso e metódico, mas recompensador.
As armas são variadas e todas possuem medidores de durabilidade. Com o uso constante, elas se desgastam e eventualmente se quebram, deixando você potencialmente indefeso. Cada tipo de arma tem uma resistência diferente, e, com um pouco de sorte, é possível repará-las com kits de ferramentas encontrados pelo cenário. É uma boa ideia reservar as armas mais pesadas para inimigos maiores, mas muitas vezes você acabará improvisando — atacando com o que tiver à mão e rezando para aguentar até o fim.
Naturalmente, as batalhas contra chefes também rendem conquistas específicas, dependendo de como você os derrota.
Seguindo essa nova direção, a câmera se torna um elemento essencial — e, felizmente, ela cumpre bem o seu papel. A exceção fica para os combates em corredores estreitos, onde o sistema de travamento de alvo revela seu ponto fraco. Nessas situações, é fácil acabar encurralado, especialmente contra criaturas maiores, e a câmera simplesmente não consegue acompanhar o caos. Aprender a atrair inimigos para áreas mais amplas antes de atacar se torna quase uma tática de sobrevivência.
Mesmo com esse foco maior na ação, o combate continua sendo apenas um complemento aos icônicos quebra-cabeças da série — e SILENT HILL f mantém essa tradição. Um detalhe interessante é que o jogo permite ajustar separadamente a dificuldade do combate e dos enigmas, o que é excelente para equilibrar a experiência conforme o estilo de cada jogador: você pode enfrentar quebra-cabeças infernais e ainda manter lutas mais acessíveis, ou o contrário.
SILENT HILL f é absolutamente brilhante — pelo menos em 90% do tempo. A tensão constante e a atmosfera sufocante, reforçadas por visuais impressionantes e um design de som impecável, criam uma experiência verdadeiramente imersiva. Jogue no escuro, com fones de ouvido, e você entenderá exatamente o que quero dizer.
Os únicos pontos que realmente incomodam são o ritmo desarticulado, combate instável e a câmera — um obstáculo menor, mas perceptível, especialmente nas primeiras horas. Com o tempo, você aprende a contornar suas limitações, embora ela ainda possa atrapalhar em alguns momentos críticos.
No geral, SILENT HILL f é uma obra intensa, assustadora e profundamente envolvente. Um retorno digno para a série, e uma experiência imperdível para quem aprecia terror psicológico de alto nível.
Só não diga que eu não avisei: o conteúdo gráfico é pesado — e isso faz parte do que o torna tão perturbador.
POSITIVO:
- Atmosfera excelente
- Narrativa intrigante e bem construída
- Sonoplastia excepcional
- Perturbador na medida certa
NEGATIVO:
- Câmera um tanto confusa
- Ritmo um tanto desarticulado
- Combate instável